Uma nova Inquisição

Tenho tido a minha mente assoberbada por pensamentos ligados à esfera financeira nos últimos dias. Falo com pessoas do 'antigamente', reúno-me com o meu grupo e, por mero acaso, fui cortar o cabelo e... a coisa ainda piorou. Então não é que o meu barbeiro de sempre costuma cortar o cabelo a gente bem informada e de repente acabamos a falar de pessoas que ambos conhecemos e estimamos. Uma delas, Ricardo Salgado, antes sobejamente conhecido como "o dono disto tudo", entretanto envolvido num megaprocesso que para o comum dos mortais está a ir num determinado sentido que algum poder político deseja, que alguns jornalistas anseiam e que certo poder judicial torce... Só que afinal a verdade, a mais pura das verdades, é que o sentido tem sido o inverso. Como assim? Já explico.
Ainda no mês passado, no dia 16, o Ricardo teve uma vitória retumbante na Justiça, uma vitória que nem eu achava possível e que vi passar muito de relance nos media portugueses. Pus-me a ver e a fazer perguntas, falei com o meu grupo de amigos (e amigas) e concluí que o primeiro round foi ganho com muita categoria pelo antigo CEO do Espírito Santo. O Tribunal da Concorrência, Regulação e Supervisão, 1.º Juízo, em Santarém, declarou nula a e revogou a condenação do Banco de Portugal ao Ricardo. E não vi isto ser explicado como devia, o que de certa forma me deixou indignado e até discuti o assunto em casa, com a Pureza.
O tribunal entendeu do BdP a Ricardo Salgado violava e inviabilizava o seu direito de defesa, isto porque os senhores comandados pelo Carlos Costa não indicaram provas e fizeram pior, ao inviabilizar a possibilidade de contraditório. Em que País estamos, afinal?
Se bem me lembro, em julho do ano passado, estava eu de férias em Moledo, a revista Sábado já ditava o que viria aí, dizendo que a acusação continha um "cenário explosivo" e que o banco do Ricardo era uma autêntica "lavandaria", com dinheiro a entrar em notas aos milhões nos balcões de Angola, Cabo Verde, Macau e Miami. Ou seja, o compliance deixava muito a desejar por aquelas bandas. Também me lembro de, já este ano, em abril, salvo erro, o Expresso do Chico Balsemão dizer preto no branco que Ricardo Salgado tinha "nova condenação no caso BES" e que a multa era a "mais pesada", isto um dia depois da notificação da decisão. Será que a comunicação social estava só errada ou estará a ser alvo de uma tentativa de manipulação? Um pensamento que não me tem deixado dormir bem às vezes porque conheço a família há tantos anos e sempre vi no Ricardo o líder incontestado daquilo tudo.
Com esta decisão do tribunal ribatejano o que vem aí? Que efeitos terá sobre outros processos em curso do BdP? Que danos irá causar na estratégia que o regulador gizou para condicionar o antigo presidente do BES? Pelo que sei, há processos do BdP contra Salgado onde o acusa sobre a sua atuação e conhecimento do que se passou com o papel comercial da ESI, isto só para dar um exemplo. Ainda por cima o julgamento está a decorrer e qualquer dia temos aí decisão. Haverá mais um revés para os procuradores?
Algumas destas ideias são do conhecimento de amigos meus também. Um deles escreve com muita acutilância - e com mais jeito que eu - na sua página do Facebook, Barbeiro de S. Jorge, onde relata episódios e situações que até agora estavam no segredo dos Deuses ou que eram vertidas em alguma imprensa, como o Expresso do Chico Balsemão, mas sem grande parte da verdade a vir ao de cima. Querem um exemplo? Há cerca de um mês o semanário publicou o que chamou de "última ata do BES", esquecendo-se de mencionar as referências dos dois administradores franceses às contas do BES e ao apoio que o Crédit Agricole sempre deu ao management do grupo.

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