Carlos Costa: o guru das ‘offshores’ que virou analfabeto?

Volto hoje ao tema do meu velho conhecido Carlos Costa, o mais bem penteado de Lisboa e arredores. Ando há dias a remoer com isto: afinal o atual Governador do Banco de Portugal é ou não um dos nossos maiores especialistas em ‘offshores’? Ele diz que não, aliás jura a pés juntos, mas eu bem me lembro que nos inícios dos anos 2000, o atual Governador era diretor para a área internacional do BCP e ficou muito conhecido por estar envolvido num dos casos mais picantes da nossa alta finança.


Ou seja, aquilo que Carlos Costa hoje pratica e apregoa como sendo um exemplo de boas práticas nesta matéria, é exatamente o oposto que fazia enquanto alto quadro do BCP. Só que anda tudo muito esquecido com isto. Porque será?

O atual Governador do BdP autorizou um total de cerca de 300 milhões de euros a ‘off-shores’ sem qualquer tipo de colateral. Como? Do meu arquivo em papel – que ando a digitalizar aos poucos com a ajuda da Pureza, que percebe muito melhor que eu destas modernices – constam peças únicas como um artigo da Visão de 30 de março do ano passado, onde tudo isto está claro como água. Não percebo aliás como é que aquele rapaz loiro da SIC, o Pedro Coelho, não deu com este artigo no meio da sua nova senda pelas responsabilidades do BdP na crise do antigo BES? Será que o grupo do Chico Balsemão tem um arquivo pior que o meu?


Homens como Jorge Jardim Gonçalves ou Joe Berardo já o disseram por diversas ocasiões, e em diferentes fora, Carlos Costa era à data um autêntico “guru” no circuito das ‘off-shore’ no BCP e, anos depois, quando o caso chegou a julgamento, o nosso agora Governador disse nada saber, que apenas assinava de cruz. Como é que isto é possível se passava por Carlos Costa o alegado “esquema” de criação de ‘off-shores’, seguida de atribuição de elevados créditos, que depois iam servir para a compra de ações no... BCP. 

Quando confrontado com estes indícios e estas práticas, o que fez o homem-forte do BdP? Disse que era apenas um elo da cadeia e nunca me saiu da memória a comparação com a cadeia de produção da AutoEuropa, mas também poderia ter citado os pastéis de Belém. Simplesmente ridículo. Carlos Costa não era uma mera peça de uma enorme engrenagem, era a própria máquina! Um diretor de área internacional não pode nunca alegar um “estado de ignorância” em matéria de circuitos financeiros mais ou menos complexos como este de que me lembrei agora de falar. Não pode! É este homem o Governador do BdP?

Diretor da área internacional do BCP entre 2000 e 2004, Carlos Costa não mexeu uma palha quando vários altos quadros do banco se viram envolvidos num processo-crime por manipulação do mercado. Na altura o que disse este nosso velho conhecido? “Estou num estado de ignorância porque não sabia desse facto que a senhora procuradora me acabou de relatar”, disse. “Passam tantas entidades com nomes tão diferentes e, às vezes com nomes tão imaginativos, que não passava pela cabeça retê-los”, acrescentou.
Portanto, Carlos Costa acabava por autorizar créditos de milhões consoante os nomes das sociedades e deixava de lado a análise de risco? Ó Carlos, então isto são boas práticas?

A mim dava-me vontade de discorrer aqui sobre uma série de nomes que poderiam ir ao encontro desta enorme novela, só não o vou fazer por respeito aos meus leitores mais assíduos... Lembro só isto: a passagem de Carlos Costa pelo magnífico universo da área internacional não se ficou sequer pelo BCP. Em 2004 e 2005, como administrador internacional da nossa Caixa Geral de Depósitos, triplicou a atividade do banco público em Espanha, atribuindo 1,6 mil milhões de euros em créditos em risco transferidos do Banco Caixa Geral para a sucursal CGD Espanha, hoje aliás a caminho de ser “descontinuada” por Paulo Macedo. 

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